Vimos que a palavra "diálogo" vem do grego e é composto por "diá" que quer dizer "através de" e por "logos" que quer dizer "palavra". "Diálogo" é a troca de palavras, para, através delas, nos relacionarmos, transmitindo o que cada palavra significa e exprima.
A seguir, percebemos que Jesus é a Palavra de Deus feita carne. "Palavra" em latim é "verbo" e em grego é "logos".
Lemos um conto de Miguel Torga sobre o Natal que aqui reproduzo:
De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis para se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste oficio, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser… Por isso, que remédio senão alargar os horizontes e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam… Lá se tinha fé na oração, isso é outra conversa.
E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas, se o mundo fosse doutra maneira. Muito embora trouxesse dez réis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Podia ter ficado em Loivos, mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoura nativa… E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor seria do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza. Em todo o caso era melhor, sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas. O problema era lá chegar, a serra nunca mais acabava e setenta e cinco anos, parecendo que não é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando deu por ela passava das quatro. E, como anoitecia cedo, não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra parecia coisa ligeira, mas se pegasse a valer?
E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa … Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama!
Com patorras de elefante e branco como um moleiro, chegou ao adro de ermida. Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada.
Vá lá! De mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida… Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora, o diabo era arranjar lenha. Saiu, apanhou um braçado de carqueja, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas. Tentou mais três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos, é que não. Lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel. Encontrou e agradecido ao Céu por aquela ajuda, olhou para o altar. Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe.
Boas festas! – desejou-lhe então, a sorrir também.
Contente, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, mas paciência. Na altura da romaria que arranjassem um novo. Daí a pouco a madeira seca ardia que regalava.
Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha da algibeira, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra, e sentou-se. Mas, antes da primeira dentada, a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou à entrada da capela.
- É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também. Diante daquele acolhimento, o Garrinchas não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para perto da fogueira.
- Consoamos aqui os três. A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.
Conto de Miguel Torga, adaptado
Escutamos de seguida a palavra de Deus que fala do Natal através do Evangelho segundo São João:
- 1No princípio existia o Verbo;
- o Verbo estava em Deus;
- e o Verbo era Deus.
- 2No princípio Ele estava em Deus.
- 3Por Ele é que tudo começou a existir;
- e sem Ele nada veio à existência.
- 9O Verbo era a Luz verdadeira,
- que, ao vir ao mundo,
- a todo o homem ilumina.
- 10Ele estava no mundo
- e por Ele o mundo veio à existência,
- mas o mundo não o reconheceu.
- 11Veio para o que era seu,
- e os seus não o receberam.
- 12Mas, a quantos o receberam,
- aos que nele crêem,
- deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
- 13Estes não nasceram de laços de sangue,
- nem de um impulso da carne,
- nem da vontade de um homem,
- mas sim de Deus.
- 14E o Verbo fez-se homem
- e veio habitar connosco.
- E nós contemplámos a sua glória,
- a glória que possui como Filho Unigénito do Pai,
- cheio de graça e de verdade.
- Ao analisar este evangelho, concluímos que quando estamos a ouvir Jesus, estamos ao mesmo tempo a ouvir Deus, pois são inseparáveis. E mesmo antes de Jesus nascer, este já estava em Deus.Observamos que há pessoas que rejeitam Jesus, e ao rejeitar Jesus, estão a rejeitar Deus. O resultado desta rejeição são as guerras, a destruição e a morte. No entanto, o texto diz que há pessoas que acolhem Deus e estes tornam-se "filhos de Deus". São pessoas que vivem de Deus pela sua fé.Por fim, vimos que Deus é tão nosso amigo que a sua Palavra se tornou visível, audível e palpável através de Jesus e se tivermos fé, este amor divino apodera-se de nós e faz-nos felizes.Depois de termos analisado os textos sobre o Natal concluímos que o Natal celebra o seguinte: Deus ama-nos de tal forma que continua a vir ao nosso encontro.Por fim, cada um reflectiu sobre o que pode fazer para que o amor de Deus, encarnado em Jesus, se manifesta na nossa vida. No que me diz respeito, quero amar, ou pelo menos tentar amar todas as pessoas, mesmo as que rejeitam o meu amor, a minha dedicação.Desejo-vos um santo e feliz Natal!